Equipamentos esportivos inovadores estimulam a integração
de crianças com deficiência em uma escola de Niterói. Outro projeto pretende
expandir uso da tecnologia para melhorar o desempenho do Brasil em sete
esportes paralímpicos.
Por: Marcelo Garcia
Publicado em 18/09/2012 |
Atualizado em 18/09/2012
http://www.youtube.com/watch?v=qOUeMx_NHuw&feature=player_embedded
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Rúgbi em cadeira de rodas ajuda a integrar alunos com
deficiência física e auditiva em escola de Niterói (RJ). (foto: INT)
Hora do recreio na escola municipal Paulo Freire, em
Niterói, município da zona metropolitana do Rio de Janeiro. Na quadra, o
esporte da vez não é o futebol e a bola rolando é outra: trata-se do rúgbi em
cadeiras de rodas, introduzido na escola por meio de uma parceria entre a
prefeitura da cidade e o Instituto Nacional de Tecnologia (INT). A ideia é
estimular a integração de alunos com deficiência física e auditiva.
A partir de medições antropométricas dos alunos e do estudo
dos materiais a serem utilizados, o instituto desenvolveu um conjunto de dez
cadeiras de rodas para a prática de rúgbi. Elaboradas principalmente com
alumínio aeronáutico e aço-carbono, são as únicas do mundo específicas para
adolescentes. “O desafio do projeto era desenvolver equipamentos de qualidade,
resistentes e baratos para possibilitar seu uso contínuo na escola”, explica a
engenheira e psicóloga Maria Carolina Santos, do INT.
O esporte é direcionado a pessoas com um grau de deficiência
mais elevado, como tetraplégicos, que têm poucas chances em outras modalidades.
Em geral, os jogadores com maior possibilidade de movimento articulam as
jogadas do ataque, enquanto os que possuem menor capacidade de movimento atuam
na defesa, barrando a progressão dos adversários.
Apesar da escola contar com apenas duas alunas elegíveis
para times profissionais, as cadeiras têm ajudado na integração de alunos com
vários tipos de deficiência. “O equipamento era destinado aos alunos com
problemas motores, mas acabaram ajudando a socialização de estudantes com
deficiência auditiva, que têm dificuldade de se integrar”, conta Santos.
Projeto paralímpico
Outro projeto do INT, fruto de parceria com o Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB), pretende fazer o Brasil superar, nas
Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, o sétimo lugar no quadro geral de
medalhas conquistado este ano nos Jogos de Londres. Para isso, pretende
desenvolver equipamentos de última geração sob medida para os paratletas
brasileiros em sete modalidades: atletismo (corrida e arremesso), ciclismo,
esgrima, basquete, rúgbi e tênis.
A iniciativa tem como base o trabalho desenvolvido desde
2008 com o paratleta Vanderson Silva, que compete no arremesso de peso e no
lançamento de disco com equipamentos desenvolvidos pelo INT.
O instituto desenvolveu um suporte anatômico feito de
espuma, plástico e ferro especialmente projetado para seu peso e deficiência. O
aparelho ajudou o paratleta a melhorar em 26% seu desempenho e a conquistar o
recorde sul-americano no arremesso de peso. Devido a mudanças técnicas nas
regras das modalidades, no entanto, ele não pôde utilizar o equipamento
customizado nas Paralimpíadas de Londres e acabou fora
do pódio.
O paratleta Vanderson Silva já utiliza um suporte especial
desenvolvido pelo INT para competir no arremesso de peso e no lançamento de
disco. (foto: INT)
Os próximos equipamentos serão desenvolvidos a partir de
conversas com os paratletas, estudo criterioso dos regulamentos e análise das
condições das instalações onde são disputadas as modalidades, além da pesquisa
por tecnologias e materiais disponíveis.
Para desenvolver os protótipos, também serão utilizados um scanner 3D,
capaz de criar modelos dos corpos dos atletas, e aparelhos que realizam a
captura dos seus movimentos, ambos disponíveis no INT. “Assim, realizaremos uma
avaliação da dinâmica dos esportes e dos movimentos e posturas dos atletas,
para desenvolver aparelhagens totalmente personalizadas”, resume o engenheiro e designer Júlio
Silva, coordenador do Núcleo de Tecnologias Assistivas do INT.
“Realizaremos uma avaliação da dinâmica dos esportes e
dos movimentos e posturas dos atletas, para desenvolver aparelhagens totalmente
personalizadas”
Ele defende que a tecnologia é cada vez mais importante no
esporte de alto rendimento, em especial para os paratletas. “Ela é
necessária até mesmo para que muitos deles sejam capazes de competir”, afirma.
“O desempenho do Brasil mostra um sucesso maior nos esportes em que a
tecnologia é menos essencial, como a natação”, completa. O diretor técnico do
CPB, Edilson Alves da Rocha, explica que as modalidades escolhidas no projeto
são justamente aquelas em que o equipamento esportivo é mais fundamental.
Outra questão importante da iniciativa é facilitar o acesso
aos esportes paralímpicos. Os aparelhos utilizados hoje são, em geral,
importados e caros. A ideia é trabalhar com empresas nacionais para reduzir
custos para clubes e atletas brasileiros. “Assim, nossos atletas poderão ter
acesso a um material de qualidade desde sua iniciação ao esporte e não somente
quando chegarem à Seleção Brasileira”, avalia Rocha.
O prazo para o início do projeto, no entanto, está ficando
curto. O Comitê Paralímpico Brasileiro ainda negocia verbas com o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação e com o Ministério do Esporte. Silva alerta:
“calculamos que serão necessários três anos para preparar equipamentos para
todas as categorias, por isso precisamos iniciar logo o projeto”.
No dia a dia
Além de Vanderson, o INT já desenvolveu equipamentos específicos para outro paratleta: Iranílson Silva, medalhista de bronze paralímpico em 1988, nos 100m rasos em cadeira de rodas. As inovações geradas por esse tipo de pesquisa também são aplicadas em projetos orientados para o uso comum, como cadeiras de rodas para uso residencial e hospitalar e kit de equipamentos para cegos, desenvolvidos pelo instituto. “É como uma espécie de fórmula 1: o investimento é alto, mas depois de um tempo acaba refletido em tecnologias aplicadas ao dia a dia”, finaliza Silva.
Além de Vanderson, o INT já desenvolveu equipamentos específicos para outro paratleta: Iranílson Silva, medalhista de bronze paralímpico em 1988, nos 100m rasos em cadeira de rodas. As inovações geradas por esse tipo de pesquisa também são aplicadas em projetos orientados para o uso comum, como cadeiras de rodas para uso residencial e hospitalar e kit de equipamentos para cegos, desenvolvidos pelo instituto. “É como uma espécie de fórmula 1: o investimento é alto, mas depois de um tempo acaba refletido em tecnologias aplicadas ao dia a dia”, finaliza Silva.
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