terça-feira, 19 de junho de 2012

Cadeirantes têm maior risco de ficarem obesos?

Publicado no dia 04/01/2011 com o(s) assunto(s) Doenças Neurológicas, Endocrinologia,Exercício Físico Adaptado, Fisiologia do Exercício Clínico, Prescrição de Exercícios






Cadeirantes têm maior risco de ficarem obesos?


Sim, os indivíduos cadeirantes estão mais propensos ao desenvolvimento da obesidade. A obesidade é uma doença complexa e multifatorial que envolve vários outros fatores, como problemas endocrinológicos, distúrbios genéticos, fatores ambientais (ex.: sedentarismo) e comportamentais. Um equívoco frequente é a justificativa de que a principal causa da obesidade é a ingestão alimentar em excesso. Na verdade, a maioria das evidências sugere que o desequilíbrio energético decorrente do consumo excessivo de calorias (especialmente uma dieta rica em gordura e açúcar refinado), um estilo de vida sedentário ou a combinação dos dois fatores mencionados contribuiriam enfaticamente para o desenvolvimento da obesidade. Entretanto, a principal diferença entre a identificação, definição e classificação da obesidade e do excesso de peso é a avaliação da gordura corporal. Além da porcentagem de gordura corporal, fatores a considerar na determinação do grau em que a obesidade prejudica a saúde são a localização e distribuição dos depósitos de gordura corporal.
Partindo do princípio de que o indivíduo acometido por uma lesão medular está mais propício ao sedentarismo, haveria uma contribuição potencial ao desenvolvimento da obesidade. Somado a esse fator, a distribuição da gordura corporal no indivíduo acometido pela lesão medular é caracterizada pela localização centralizada da gordura, que está altamente correlacionada com o risco cardiovascular.
Outros fatores ligados à característica da lesão medular contribuirão para um maior risco de obesidade nessa população. A disfunção autonômica e somática encontrada na lesão medular pode também afetar a função metabólica e hormonal, incluindo uma resposta do sistema nervoso simpático e do eixo glândula adrenal-glândula hipófise, resultando em ritmos circadianos prejudicados e uma má resposta na regulação dos hormônios glicocorticoides. Intolerância à glicose é um achado frequente nos pacientes cadeirantes e é muitas vezes acompanhada por hiperinsulinemia compensatória. Alguns autores colocam que alterações na função da insulina podem ser um mecanismo fundamental na etiologia e manutenção da obesidade. Embora a função tireoidiana possa estar agudamente alterada na lesão medular, testes da função tireoidiana são geralmente normais em adultos cadeirantes. Inversamente, os níveis de testosterona total e testosterona livre em homens com lesão medular são muitas vezes reduzidos, enquanto a liberação do hormônio de crescimento está atenuada e cronicamente deprimida.

Cadeirantes que conseguem andar, mas que não têm tantas forças nas pernas: como eles podem emagrecer?

A questão do emagrecimento não parece ter correlação com o ergômetro a ser escolhido, muito embora haja uma tendência maior a um gasto calórico significativo quanto maior o número de grupos musculares envolvidos durante o exercício físico. Entretanto, a relação gasto calórico e exercício físico depende de outras variáveis, como dieta, volume corporal, gênero e condição clínica, para que possa ser bem instruída e individualizada. Um recurso muito utilizado para esses pacientes que conseguem andar, mas não têm força suficiente para a manutenção do ortostatismo, é um aparelho chamado Unweighting System (recurso que permite a redução da descarga do peso corporal durante a marcha), que traz bons resultados em termos de perda de peso para os pacientes que utilizam essa tecnologia. Aliado a isso, a utilização do cicloergômetro de braço, somada a exercícios de força para os membros superiores, tende a gerar um gasto calórico significativo nos pacientes que querem emagrecer.
 E quanto a paraplégicos? Como emagrecer?
Para esses pacientes, a dieta alimentar associada a um volume de exercícios físicos adequados e suficientes para o desequilíbrio da balança energética pode apresentar resultados positivos em termos de redução do peso corporal. Entretanto, é fundamental que o paciente paraplégico que apresenta o objetivo de perda de peso procure um nutricionista e um médico para uma orientação adequada e individualizada, a fim de maximizarem-se os objetivos e minimizarem-se os riscos clínicos envolvidos em uma restrição calórica sem orientação de um profissional especializado.
 Fisioterapia ajuda a emagrecer?
Qualquer situação que tire o indivíduo da inércia pode resultar em um gasto calórico. A fisioterapia é altamente indicada para os pacientes acometidos por lesão medular em qualquer nível de comprometimento clínico. Entretanto, creio que a intensidade e o volume de exercícios físicos utilizados durante a sessão fisioterápica não são suficientes para gerar-se um desequilíbrio energético negativo para a promoção do emagrecimento. Cabe ressaltar que creio nem ser esse o objetivo primário do trabalho fisioterápico nos pacientes com lesão medular.


E tetraplégicos, para os quais o exercício ativo é impossível? Como é possível perder peso?

A dieta alimentar é o recurso mais indicado nesses pacientes. O exercício passivo não gerará um gasto calórico significativo para um desequilíbrio da balança energética pela ausência de contração muscular voluntária.

Cadeirantes podem ter algum risco de saúde por não se movimentarem com mais frequência? Há alguma alternativa que substitui o exercício ativo?

O sedentarismo é um fator independente para o risco cardiovascular para ambos os sexos e qualquer situação clínica vigente. A literatura médica não relata nenhuma outra forma de obtenção dos benefícios gerados pelo exercício físico através de alternativas terapêuticas. Entretanto, é altamente indicada a procura de um médico para uma avaliação criteriosa pré-exercício.
 Que atividades físicas são recomendadas para cadeirantes?
O treinamento físico pode proporcionar uma variedade de benefícios relacionados à saúde de um indivíduo com lesão medular. As seguintes recomendações devem ser consideradas no desenvolvimento de um programa de treinamento cardiopulmonar, que podem incluir o cicloergômetro de braço, propulsão de cadeira de rodas em esteira ou roletes. Natação, esportes vigorosos, como basquete de cadeira de rodas, corridas, ciclismo com os braços, podem ser associados ao FES (estimulação elétrica funcional) e cicloergômetro de pernas ou cicloergômetro de braços.
Para prevenir a síndrome do “overuse” deve-se variar a estruturação, o grupo muscular e a intensidade dos exercícios para os membros superiores, lembrando da importância do fortalecimento dos músculos da parte superior das costas e posterior do ombro, especialmente rotadores externos dos ombros e alongamentos para os músculos anteriores do ombro e peitoral maior.
Além disso, é fundamental a escolha do local adequado para a prática de exercícios físicos pelo profissional de Educação Física, visto a necessidade do controle da temperatura e umidade para os indivíduos com lesão medular.


Por não ter sensibilidade em determinadas partes do corpo, como o cadeirante vai conhecer seu limite para atividades físicas? É perigoso o cadeirante sofrer luxações e torções sem que perceba?

Luxações e torções não são lesões musculoesqueléticas características nesse tipo de situação clínica nos indivíduos engajados em programas de exercícios físicos. Para os atletas cadeirantes de esportes de contato físico, há uma possibilidade maior desse tipo de lesão mencionada (luxação e torção) pela ocorrência frequente do trauma esportivo.
Relacionado aos reconhecimentos dos limites para o exercício físico, variáveis como pressão arterial, frequência cardíaca, duplo produto (medição estimativa de esforço cardíaco e de consumo de oxigênio pelo miocárdio), temperatura e percepção subjetiva do esforço são utilizadas para a identificação da sobrecarga fisiológica durante o exercício físico. Entretanto, é papel do profissional de Educação Física identificar as respostas fisiológicas e patológicas para o exercício físico nos indivíduos cadeirantes, bem como assegurar a relação custo-benefício, a especificidade, sobrecarga, progressão e regularidade para o exercício físico eficaz a essa população.

Prof. Wagner Silva Dantas possui larga experiência em reabilitação cardiovascular e fisiologia do exercício clínico, é Coordenador do Programa FITCOR® de Exercício Físico aplicado à Reabilitação Cardiovascular e Grupos Especiais no Centro de Reabilitação do Hospital Sírio Libanês e Coordenador Técnico da Certificação Mais Vida ®. Graduado em Educação Física pela UNIFMU, Aperfeiçoamento em Exercício Físico aplicado à Reabilitação Cardiovascular pela USP e Aperfeiçoamento em Clinical Exercise Physiology pela Bond University - Austrália. CREF 041542-G/SP

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