Texto extraído do Focoblog.
Belíssimo e sensível trabalho do repórter Carlos Etchichury e do fotojornalista Tadeu Vilanique o Focoblog compartilha com seus leitores - através de algumas imagens que não foram para o impresso. Confira também o vídeo da reportagem.
DAIANE, tombos e aventuras
Portadora de uma má-formação congênita do sistema nervoso, Daiane Bochi foi submetida a oito cirurgias antes de completar um ano de vida. UTIs neonatais eram mais familiares do que o quartinho decorado pela mãe, Neiva Terezinha Fagundes Bochi. Dai, como Daiane é conhecida, sobreviveu às intervenções. Com 32 anos, cursa o último semestre de Jornalismo e aprendeu a lidar com as limitações que a acompanharão até o final dos seus dias causadas por hidrocefalia e mielomeningocele. – Eu aceito a minha deficiência – diz. Dai só é avessa à excessiva dependência de terceiros, agravada pelo transporte coletivo deficiente, pelas calçadas hostis, pelos prédios desprovidos de rampas, pelos edifícios sem elevadores, pela indiferença dos governantes, por uma cidade que teima em fechar os olhos para os diferentes.
MARCOS, o dono da avenida
Vítima da violência urbana, Marcos de Souza Nunes, 35 anos, perdeu os movimentos das pernas ao tentar evitar um assalto. Tinha 17 anos. Reagiu com socos e pontapés, sem saber que um outro bandido, armado, o atacaria à traição. Ele lembra apenas que um estrondo precedeu o impacto de algo contra as suas costas. Era o disparo de um revólver calibre 38. – Queriam os meus tênis, levaram as minhas pernas – diz. No hospital, um dos médicos plantonistas o alertou que as chances de voltar a andar eram mínimas. Nunca mais caminhou. Reconquistou a liberdade num cruzamento da Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, zona norte de Porto Alegre. A bordo de uma cadeira de rodas rota, provida com apenas um dos pneus, resgatou a autoestima vendendo guloseimas numa sinaleira. Faz isso há 15 anos.
O técnico em computação Lino Fabiano Freitas Paixão especializou- se na arte de trapacear a morte. Portador de uma distrofia muscular severa, com sorte, viveria até os 20 anos. O prognóstico era de uma morte por asfixia. Lino subverteu a lógica. Está com 34 anos. Aguarda um diagnóstico mais preciso para sua doença. Casou- se com Adriana Brand Baptista, 32 anos, também cadeirante. O casal é feliz. Reside no Jardim Algarve, em Alvorada, tem dois filhos, Nicolly, quatro anos, e Gabriel, um ano, sustenta- se com o próprio trabalho e engorda a renda com pensões pagas pela União. A família faz planos. – Vamos deixar a peça dos fundos para morar num apartamento próprio, no térreo, adaptado, com dois quartos, cozinha e sala de jantar. Será a nossa casa!
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